(Por I. Leite e R. Camilo)
O crime está migrando para o esporte. Segundo uma reportagem que saiu no dia 1º de julho de 2009, no site da agência de notícias Reuters, o futebol está sendo cada vez mais utilizado pelos criminosos para lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. Tudo isso só é possível graças a dificuldade financeira em que muitos clubes se encontram. O futebol está atraindo o olhar dos criminosos devido a transações milionárias de jogadores entre países. Mas o futebol não é único escolhido para a prática ilegal. A corrida de cavalos também está na tabela, junto com o rúgbi, críquete e automobilismo.
Confira abaixo uma entrevista com Leandro Carvalho Pinto, chefe e diretor da área de comunicação do Praia Clube São Francisco sobre o assunto.
1. Leandro, você que acompanha o esporte há muito tempo, a corrupção é um mal dentro do esporte?
R: Depende de que tipo de corrupção se esteja falando. Esportivamente, acho muito difícil um atleta entregar o jogo. Administrativamente, seria um mal, mas provar a corrupção é mais difícil do que ver cabeça de bacalhau!
2. Leandro, você tem esperança de que a corrupção um dia acabe?
R: Sim, na sociedade como um todo. Mas, não acabará enquanto a própria sociedade não compreender que não pode dar esmola ao mendigo, ao guardador de carro, ao funcionário público para ter o documento mais rápido, ao cambista. O mal vem da própria sociedade, a mesma que clama pelo fim. Por isso o ciclo se renova sempre, os vícios ficam e os corruptos se mantêm.
3. Em 2007, com a realização do Panamericano, houve superfaturamento e desvio de recursos públicos nas obras? Com esses problemas, valeu a pena a realização do Panamericano?
R: Todo e qualquer evento esportivo de porte, de vulto internacional, é válido de ser feito. Custe o que custar, a relação custo x benefício sempre será maior para o cidadão. Londres 2012 está superfaturada, a Copa da Alemanha teve também seus problemas, a Copa da África relatou diversos casos piores do que este. O grande mal é que a nossa imprensa tem mania de veicular o que vende, e desgraça vende! Por que não falar do parque aquático Maria Lenk, do Engnhão, do ginásio na Barra, de quanto trouxe de fomento ao comércio local o turismo gerado pelos jogos ou quanto foi benéfica às nossas crianças – em tempo de guerra urbana, de drogas e favelas – a paz e a segurança que tivemos na cidade? Isso não tem preço! O esporte atua como moderador político em nosso país e em vários outros. E o dinheiro envolvido nisso cresce a cada dia mais. E entre a alienação do romantismo apaixonado do torcedor e a consciência crítica do jornalismo atual, prefiro um meio termo.
4. Então, o que você espera da copa do mundo de 2014 e das olimpíadas em 2016?
Um exemplo de como se faz esporte, de como se vive esporte e como se pratica esporte e cidadania em nosso país. Espero, sinceramente, muitos problemas até lá. Mas na competição tudo vai correr muito bem.
5. Com sua experiência em cobertura de beira de campo, você já testemunhou algo de estranho dentro do gramado? ‘Corrupção’?
Não sei por que tamanha recorrência em relação a corrupção. Nada vi de estranho, mas cansei de saber de jornalista que “vende” a matéria para clube e jogadores e o absurdo sequer é relatado. Quer jornalista mais vendilhão do que o Milton Neves? Ou mais merchandising maior do que o do Garotinho? Algum deles falaria mal de seus patrocinadores se estivessem envolvidos em escandalos? Não creio! Sabe por quê? Dependem dos mesmos. Tudo é um grande jogo de interesses e, se você não souber se manter à margem, se envolve! Talvez seja por isso que estou à margem da mídia esportiva atualmente!
6. Você, sendo vascaíno fanático, concordava com a administração de Eurico Miranda?
Depende. Administrativamente, não. Politicamente, não. Financeiramente, não. Mas, esportivamente, não há como negar que ele teve competência para montar e desmontar vários times vencedores como diretor de futebol. E o Vasco conquistava títulos. Na balança, prefiro o Dinamite, mas não acho que Eurico foi todo esse vilão que a “Flapress” vende!
7. Leandro, na sua opinião existe mesmo a máfia do apito ?
Existe um jogo de interesses… Fulano, amigo de ciclano, que escala beltrano. Favores e coisa e tal, mas grana viva não creio que role!
8. Na final da Taça Guanabara em 2008, Flamengo X Botafogo, você acha que o Flamengo foi favorecido?
Sim, por erros de arbitragem que qualquer ser humano comete. Não deliberadamente! Se assim for, passem em um blog e lá acharão mais respostas para tais casos.
9. No Brasileirão de 2005, com aquele escândalo de corrupção, o que aconteceu na verdade, na sua opinião?
Aconteceu que usaram o Edílson para cobaia, encobrindo o dinheiro que o Kia colocou na real para ver o Corinthians campeão. Ele era a peça menor da engrenagem e o único que pagou o pato! De Ricardo Teixeira a Conaf, nesse ano, não safo ninguém.
10. Hoje saiu uma manchete no Globo que cita o presidente da FIFA, Joseph Blatter, envolvido em um esquema de corrupção. Na sua opinião, a corrupção está em todos os lugares?
Sim, em todos os lugares. Principalmente onde as somas envolvidas são maiores. Isso administrativamente. Esportivamente, creio que o doping financeiro seja só positivo. Ou seja, paga para ganhar, a famosa “mala branca”. Nossa cultura mostra que o perdedor não é lembrado, detestamos perder até par ou ímpar. Na minha maneira de pensar, se perdemos, somos zoados. Profissionalmente, creio que o dinheiro circule muito maior nas UEFAS da vida e não em campo, mas sim para tal time jogar ou tal time disputar a Copa do Brasil, por exemplo (cabide de votos da CBF).
11. Na sua opinião, qual é o maior escândalo de corrupção da história dentro do esporte?
As papeletas amarelas, de 1986, quando o então presidente George Helal, do Flamengo, anotava em uma caderneta de folhas amarelas os valores de propinas pagas.
Links Externos:
Reportagem sobre lavagem de dinheiro no esporte
Blog de Leandro Carvalho Pinto